Ato na Lagoa do Abaeté marca Dia de Combate à Intolerância Religiosa

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Flores, milho branco, e músicas para saudar Iansã. Foi assim o ato simbólico no Parque do Abaeté para marcar o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, nesta quinta-feira (21). A atividade aconteceu em frente ao busto da yalorixá Gildásia dos Santos, a Mãe Gilda, que morreu em 2000 após ser vítima de intolerância religiosa: ataques de ódio e agressões verbais e físicas por integrantes da Assembleia de Deus dentro de seu próprio terreiro, em Itapuã.

Além disso, um ano antes de sua morte, Mãe Gilda teve sua imagem utilizada no jornal Folha Universal, vinculado à Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), com a manchete “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. A yalorixá se tornou símbolo de resistência e afirmação das religiões de matriz africana, inspirando a criação da data. 

“Tudo isso foi fruto da minha persistência. Somos seis filhos, mas apenas eu acreditou nessa luta. Deixei a minha vida de lado para lutar contra a intolerância religiosa”, disse Mãe Jaciara, que é filha de Mãe Gilda e que herdou o legado da yalorixá.

“Essa data é um marco não só de Mãe Gilda, mas de todo o povo que foi arrancado da África, principalmente as mulheres de candomblé que são invisibilizadas por causa dessa intolerância”, completou.

O evento foi realizado pelo terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, com a presença de cerca de 50 pessoas, todos vestidos de branco. Antes do ato, o próprio pessoal do terreiro já tinha feito uma ação fechada para saldar a memória de Mãe Gilda. “Todos nós filhos do Abassá de Ogum tem Mãe Gilda como o alicerce da casa. Ela é nosso ancestral maior e referência de vida”, explicou Mãe Pequena. 

Já o ato da Lagoa do Abaeté foi aberto para a população e teve a presença de Fabia Reis, secretaria de Promoção da Igualdade Racial, e o cônego Lázaro Muniz, padre da Igreja Católica. “Estar nesse ato é um sinal de respeito a memória de Mãe Gilda e a todas as religiões, que têm o seu valor e devem ser cuidadas e guardadas de acordo com sua dignidade. Ninguém tem o direito de desrespeitar o outro por sua religião”, defendeu o sacerdote católico. 

Memória 
O local onde o ato aconteceu foi na frente do busto de Mãe Gilda, na Lagoa do Abaeté, que homenageia a yalorixá. No ano passado, o monumento foi alvo de vandalismo. O autor do crime, que não teve a identidade revelada, foi preso e disse que apedrejou o busto “a mando de Deus”. Não foi a primeira vez que isso aconteceu, já que em 2016 o busto também foi vandalizado por intolerância religiosa. Naquela ocasião, foram necessários seis meses até que houvesse a restauração. 

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