Moradores fazem ato em defesa da Lagoa do Abaeté

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A água escura da Lagoa do Abaeté já não é mais espaço para lavadeiras, correria de crianças e admiradores do luar, como cantava Dorival Caymmi. A paisagem de 2019 grita, mais uma vez, por socorro. É isso o que dizem os moradores da região e representantes do Fórum Permanente de Itapuã, que participaram do 2º Ato em Defesa do Abaeté, neste domingo (2).

Muito emocionada, Denise Galo, 80 anos e há 76 moradora de Itapuã, diz que os três filhos, cinco netos e quatro bisnetos não puderam ter a sorte dela de desfrutar de uma infância em meio às dunas do Abaeté. “Eu sinto tristeza. A gente passava pelo pé de gergelim e a água da lagoa parecia transbordar. Hoje, eu fico horrorizada e com lágrimas nos olhos ao ver tudo isso quase seco”, contou.

Especulação imobiliária, invasões, lixo, depredação e poços artesianos ilegais são alguns dos motivos apontados pelo Fórum como os causadores dos problemas do Parque Metropolitano Lagoas e Dunas do Abaeté – administrada pelo governo do estado – entre eles a diminuição do nível de águas das inúmeras lagoas que compõem a Área de Proteção Ambiental (APA).

O ato deste domingo acontece em meio à Semana do Meio Ambiente e, para o Profeta da Lagoa do Abaeté, Seu Francisco de Assis, 69 anos e há 53 morador do bairro, o movimento é para “melhorar o cenário da lagoa”.

(Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)

Seu Francisco contou que o espaço vive uma realidade de maltrato. “O verde sofre. Galhos quebrados e deixados apodrecendo no chão. A água sumiu e a gente gostaria de saber para onde ela está indo. Não é possível que o Abaeté e as outras lagoas tenham ficado tão rasas e até secas nesses anos”, disse.

Lavínia Bonsucesso, membro do Fórum Permanente de Itapuã, explicou que a comunidade da região, há dois anos, se organiza no ato em defesa do Parque Metropolitano, pedindo que seja reconhecida a importância do espaço, que se trata de uma APA e abriga espécies da flora e fauna nativas que compõem a reserva de Restinga da Mata Atlântica.

“Não só as belezas, as pessoas precisam ter atenção às vulnerabilidades do parque, que vive uma situação de total abandono. A gente pede que o poder público tenha mais cuidado com o espaço, porque a área está sem cercamento, com ritmo acelerado de invasão, muita perda de manancial, sendo este um apelo de todos os que se importam com a preservação da natureza e da cultura”, ressaltou.

Ainda segundo Lavínia, o parque pertence à população, que deve, então, ocupá-lo. “Se deixarmos de frequentar, outras pessoas vão ocupar isso aqui. Houve a tentativa de construir restaurantes e bares, mas que não refletem o espírito do local. As construções são puro concreto. Isso não é Itapuã, não é o Abaeté”, destacou.

Moradora da Boca do Rio e membro do Conselho do Parque de Pituaçu, Marcele do Vale, 50 anos, ressaltou a importância da conexão entre as áreas verdes do município. “A cooperação deve acontece, porque as áreas verdes são essenciais para a população e para a vida no planeta”.

“Em maio, houve uma reunião entre o Ministério Público da Bahia e os coletivos de defesa dos parques, na qual foi aprovado o projeto ‘Parques em Conexão’, que prevê o trabalho de chamamento da população para ocupar os espaços verdes da cidade, a exemplo do Abaeté, Pituaçu e São Bartolomeu”, contou Marcele.

O engenheiro sanitarista e diretor de Águas do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema-Ba), Eduardo Topázio, explicou que a redução no volume de águas das lagoas que formam o Parque Municipal do Abaeté acontece em razão da impermeabilização do entorno. “As dunas ao redor da Lagoa do Abaeté servem para reter o excesso de água deixado pelas chuvas, alimentando o lençol freático”.

Além deste domingo, o  2º Ato em Defesa do Abaeté acontece também ao longo desta terça-feira (4), das 8h às 10h, no Colégio Lomanto Júnior, em Itapuã, onde terão rodas de conversa sobre a necessidade da preservação ambiental, além de atrações musicais.

Fonte: Correio

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