Tamires Santos, 31 anos, abriu sua loja de bebidas, ou adega, em janeiro de 2021. O Depósito da Preta fica, atualmente, na praia de Itapuã, em Salvador (BA). Mas sua conexão com o empreendedorismo vem do berço. Santos é neta de Alaíde do Feijão, empreendedora histórica de Salvador. Nascida em 1948, Alaíde começou vendendo feijoada nas ruas da cidade, até abrir uma casa no Pelourinho na década de 1960.
Pela importância histórica, a rua em que até hoje fica o Restaurante Alaíde do Feijão foi alvo de um projeto de lei em 2022. O antigo nome – rua das Laranjeiras – foi alterado para rua Alaíde do Feijão, no fim do ano passado. O nome anterior homenageava uma família escravocrata e, agora, comemora o legado da empreendedora.
“O restaurante não é apenas um estabelecimento, é um quilombo para discutir pautas sociais e raciais. Minha avó foi uma grande quituteira, empreendedora e militante comprometida com a luta antirracista. Ela dava de comer até para quem não tinha condições de pagar”, conta Santos. Após a morte de Alaíde, que faleceu vítima da covid-19 em 2022, o restaurante é tocado pelas filhas e netas da fundadora.
Além da conexão familiar, Tamires Santos também tem um cargo público ligado ao apoio a afroempreendedores locais. Ela é coordenadora do setor de empreendedorismo da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia. Antes do atual trabalho, ela tinha sido assessora parlamentar. “Tenho emprego, mas busquei empreender porque nós, como mulheres pretas, sabemos das responsabilidades que temos na família. Nossa luta não é individual, é coletiva. Busquei empreender para gerar renda entre os meus, meus pais estavam desempregados na pandemia”, diz Santos, que também está estudando psicologia.
O Depósito da Preta fica em Itapuã desde sua abertura, mas mudou de endereço há três meses e atualmente está localizado na orla da praia. “Estamos crescendo. Agora, como faz pouco tempo que mudamos de ponto, temos ainda desafios com o aluguel mais caro. Mas estamos apostando”, diz a empreendedora. Ela abriu a loja com o companheiro, Jonatã Ribeiro, 31 anos, e seus pais também trabalham no negócio.
O diferencial da loja é a decoração, que conta com fotos das memórias familiares de Santos, referências afro e a bandeira LGBTQIAP+. “Somos representativos e inclusivos. O ramo das bebidas ainda é muito masculino. Queremos mudar isso”, afirma. A loja tem salão para consumo no local e vende também por retirada e delivery, além de participar de feiras itinerantes.
De acordo com a empresária, sua adega é o único estabelecimento que vende chope de vinho em Itapuã, produto que conheceu após uma capacitação na área cervejeira. O item mais importante do Depósito da Preta, neste verão, tem sido o Kit da Preta – que custa de R$ 64,99 a R$ 94,99 e inclui uma caixa de cerveja, gelo, um litro de refrigerante ou água de coco e uma porção de petiscos, como carne de sol, iscas de peixe e bolinho de bacalhau. “Dou de brinde um copo de chope de vinho para as pessoas conhecerem. Geralmente, o cliente traz seu cooler e a gente monta o kit para ele”, explica.
Além do público geral, o Depósito da Preta fornece bebidas para os restaurantes Alaíde do Feijão e Roma Negra, que também fica no Pelourinho. O faturamento médio atual é de R$ 30 mil mensais, mas a meta para este ano é chegar aos R$ 50 mil por mês.