O acúmulo de água parada transformou os barcos de pesca ancorados em Itapuã e Rio Vermelho em criadouros do aedes Aegypti, o transmissor da dengue, chikungunya e zyka – doenças conhecidas como arboviroses, que sempre reaparecem com mais intensidade no Verão. As embarcações foram visitadas, nesta quarta-feira, 20, pelas equipes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), vinculado à Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS), que intensificou as inspeções em busca de focos do mosquito.
Itapuã, inclusive, é o distrito sanitário que registrou maior número de casos de chikungunya em 2021. Segundo o Sistema de Informação de Agravo de Notificação (Sinan) foram 10 registros até agora.
As embarcações que não têm muita movimentação é que têm virado berçário do aedes. “No barco que o pescador sai todo dia raramente encontramos foco porque ele é movimentado, sai sempre. Mas o barco que continua ali durante um bom tempo, com esse período de chuva, é propenso para o desenvolvimento de mosquitos”, explica a subcoordenadora do CCZ, Isolina Miguez.
Ela acrescenta que o objetivo da inspeção realizada pelo órgão é verificar onde estão os criadouros na cidade para eliminá-los. Os pontos estratégicos, que são visitados quinzenalmente pelas equipes do CCZ são borracharias, pátios de empresas, construções, cemitérios e as embarcações. “Iniciamos as inspeções na segunda-feira, 18, em vários pontos de Salvador. A intenção é fazer uma varredura no município durante essa semana, identificando os problemas e locais que poderão se transformar em criadouros”, acrescenta Isolina.
Pescadores doentes
O presidente da colônia de pescadores de Itapuã, Arivaldo Santana, 52 anos, conta que muitos pescadores da região já pegaram alguma das arboviroses por conta da água parada nos barcos. Dos 130 que pescam perto dele, na rua da Música, pelo menos 60 já foram contaminados, estima. No total, são 373 associados à colônia. “Quase todos os pescadores pegaram zika ou chikungunya, é raro ter um aqui que não pegou”, diz o presidente.
A causa do problema, segundo ele, é a falta de atenção e cuidado dos donos das embarcações. “Está chovendo muito todos os dias e muita gente que bota o barco aqui deixa na areia e vai embora, não volta. Levam dias, meses sem vir”, critica o pescador.
Ele ainda diz que cada um ajuda como pode para evitar que haja água parada muitos dias. “A gente vira o barco, quando pode, para ele não ficar com a boca para cima. O pessoal tira a água, coloca óleo queimado para evitar os mosquitos ou a gente faz um furo no barco quanto está demais. Mas é meio complicado, porque são mais de 300 barcos nessa área. A gente não pode deixar o pessoal adoecer por conta de descaso de dono de embarcação”, afirma Arivaldo Santana.
Manoel dos Santos, 53 anos, pescador desde menino também em Itapuã, foi um dos que pegou uma das doença transmitidas pelo aedes Aegypti. “Tinha um iate que ficou aqui e várias pessoas pegaram chikungunya. O barco ficou cheio de água, a gente botava óleo, o pessoal da Sucom vinha botar produto, mas começava a chover de novo e ía só renovando a água”, conta.
Apesar de ter pego a doença há quase um ano, o pescador diz que ainda sente dor nas articulações. “Até hoje sinto dor nos ossos e nas articulações, nos joelhos e braços. Na época, fiquei em casa, senti aquela febre, dor de cabeça e dor nas juntas. Minha esposa também pegou. Chikungunya é barril”, descreve.
Desde então, o pescador afirma que fica mais atento para evitar que tenha água parada nas embarcações. “A gente está fazendo de tudo para não deixar, fica de olho grosso mesmo, porque a gente está ali todo dia, então fica um negócio chato e é nossa saúde. A gente sempre conversa com os donos, mas, ultimamente, a gente não está deixando mais”, explica Manoel. Segundo ele, os barcos que causam maior preocupação são os menores e que ficam na areia, pois não têm proteção e acumulam mais água.