A combinação do azulejo e pisos reaproveitados, rejunte e a sobra da madeira utilizada em construções civis têm ressignificado a vida de pessoas que acreditavam estar sem rumo, e transformado o indivíduo, aparentemente sem talento, em artista através do mosaico. As emoções e perspectivas pessoais expressas através de telas com significado poético compõem a Exposição Raízes de Itapuã, iniciada na manhã desta segunda-feira (20) no Saguão Josaphat Marinho, na entrada principal da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA).
Ao todo, 20 telas de diferentes tamanhos e formatos podem ser encontradas na ALBA até a próxima sexta-feira (24), com valores entre R$300 e R$1,5 mil. As obras traduzem as leituras de mundo dos artistas, e esboçam críticas sociais ao tempo que também exaltam a cultura e a religiosidade baiana. Na semana em que é celebrada a Consciência Negra, alguns dos itens retratam as figuras da baiana do acarajé e dos orixás, símbolos da cultura afro na Bahia. O conjunto de obras foi criado por integrantes do Grupo Mosaiqueiros de Itapuã, que surgiu a partir de uma oficina de mosaico, ofertada pela Secretaria de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer da Prefeitura de Salvador, e executada no Centro de Referência da Assistência Social (Cras) de Itapuã.
As oficinas são ministradas pelo artista Fernando Queiróz, idealizador do projeto. Além dos ensinamentos artísticos, os participantes contam com o atendimento de psicólogos e assistentes sociais. “As pessoas acolhidas pelo Cras passam por algum tipo de vulnerabilidade social, como baixa autoestima, depressão, síndrome do pânico, e situação de pobreza. Algumas não saem mais de casa”, explicou Queiróz.
A arte do mosaico resgatou a autoestima da artista Glaucia Ueti, de 51 anos. A paulista, que mora na Bahia há mais de uma década, conta que vivia um momento depressivo antes de descobrir o seu potencial artístico. A insegurança deu lugar ao entusiasmo, e as dinâmicas no Cras contribuíram para que sua vida ganhasse novo sentido. “Surgiu uma força dentro de mim. Eu percebi que era capaz”, contou.
Para a aposentada, Consuelo Machado, de 60 anos, aprender a fazer mosaico a ajudou a se conformar com o falecimento do esposo em 2020, vítima da Covid-19. “Foi um período muito difícil. Mas a arte me ajudou. Hoje me sinto mais feliz”, disse.